Criando esse espaço pra quem pira o cabeção escreve contos, poesias, histórias e afins... E pro pessoal ler e curtir nossos dons anti-artísticos, hehehe. Vou começar com um que fiz esses tempos...
Era domingo, fim de tarde, tempo nublado. Estava sozinho em meu trailer, fumando meu charuto, bebendo meu uísque vagabundo e escutando o meu preciso “Original Sun Sounds” do Johnny Cash. Como o filho da puta conseguia gravar discos perfeitos como esse? Que se foda o Elvis, pra mim o rei mesmo era o Cash. A música e a bebida preenchiam o vazio que estava constantemente dentro de mim. Devia ser por isso que eu passava o tempo todo bebendo e ouvindo meus discos.
De repente, alguém bate na porta do trailer. Abro-a. É Carol.
- Nossa... Tempo que não nos vemos, não?
Ela só deu um sorriso amarelo e entrou, sentou na cama e acendeu um cigarro. Estava gostosa e sexy como sempre, com um short bem curto e uma camisa xadrez. Então começou a falar.
- Pois é desde que me casei com Marco... Mas... Eu não agüentava mais esse bunda-mole.
- O que ele tava fazendo contigo? Por acaso ele tava te batendo?
- Antes fosse. O filho da puta nem me notava. Era correto demais, educado demais, não trepava... Fazia amor. Era entediante. E além do mais só fazíamos uma vez por semana, às vezes nem isso, e o bunda-mole estava pensando em ter filhos. Porra! Eu não quero ter filhos...
Ouvia, mas não prestava muito a atenção. Continuava a fumar meu charuto e beber meu uísque vagabundo. O lado A do disco tinha acabado. Todo mundo já tinha aparelhos de CD, mas eu preferia meu bom e velho toca disco e os bolachões...
- Um instante, Carol. Vou virar o disco. Quer uma dose de uísque?
- Tudo bem, tudo bem. E eu quero sim.
Virei o disco. O lado B abria com “Belshazah”. Adorava essa música. Carol perguntou:
- Porque você não compra um tocador de CDs?
- Gosto do meu velho toca-discos, além do mais, o som do LP me parece mais natural, mais encorpado... Talvez seja paranóia minha, mas prefiro assim.
Servi uma dose de uísque para Carol e voltei a sentar na cama com ela. Ela me abraçou e a beijei. Continuou a falar...
- Marco parece que jogava sua vida na privada. Só queria saber de seu emprego, não tinha amigos, se preocupava só com sua família conservadora de merda, tinha dinheiro, uma casa bonita, mas não aproveitava porra nenhuma. E nem me notava. E não me fodia. Fazia amor. Não me chupava, não apertava meus peitos, era sempre a mesma coisa, era sempre comportado, correto... Era entediante. Onde estava com a cabeça quando te larguei pra ficar com esse bunda-mole?
- Você sabe onde estava com a cabeça sim. Estava era interessada no dinheiro dele. Eu não tinha e continuo não tendo porra nenhuma. Era e continuo sendo um músico decadente. E agora as coisas pioraram. A banda acabou. Tony teve uma overdose, Mike casou e virou crente, Dave cansou dessa de música e virou um cuzão, quer constituir família e está na merda de um emprego normal. Agora tenho que tocar em bares decadentes músicas do Elvis e blues antigos para bêbados por alguns trocados e umas cervejas baratas.
- É, foi por isso que te larguei pra ficar com Marco... Porque você não arruma um emprego normal?
- E virar um cuzão como Dave, Mike ou o próprio Marco? Até já pensei nisso, mas só a música e a bebida andam preenchendo, aliás, sempre preencheram o vazio dentro de mim. Por isso continuo tocando para bêbados em bares sujos e decadentes... É uma merda, mas é tudo que tenho, é a única coisa que ainda me dá prazer. Sou mesmo um desajustado, 30 e poucos anos na cara e ainda agindo que nem um moleque, mas que se foda. Não me importo com essa vida de merda, pelo menos enquanto tiver meu uísque vagabundo, meu velho violão folk, meus discos de Johnny Cash e um lugar onde ouvi-los.
Carol me beijou e continuou a falar:
- Você tem tudo que precisa. Tem seu uísque vagabundo, seu velho violão folk, seus discos do Johnny Cash e onde ouvi-los. E sabe o que uma mulher quer. Sabe foder uma mulher. Sinto falta de nossas trepadas.
- Oh, eu também. Sinto muito falta de nossas trepadas. Ultimamente só tenho fodido garotas bêbadas, muitas vezes putinhas adolescentes, entre 17 e 19 anos. Nem sabem direito o que é um caralho. Sou mesmo um depravado filho da puta...
Carol não disse nada, apenas me beijou mais uma vez. Apertei seus peitos bem forte. Que peitos... Cabiam direitinho na minha mão. Ela continuou falando...
- Quero voltar pra você.
- Mas e Marco?
- Eu acabei com ele.
- Você se divorciou?
- Não.
- O que você fez então?
Carol riu e disse:
- Eu matei ele.
- Você o matou?
- Sim.
Silêncio. “Two Timin’ Woman” tocava. Era a penúltima do disco.
- Ok, como o matou, porque você fez isso? – Eu disse.
- Atirei nele enquanto trepavamos... Ou melhor, fazíamos amor. Era entediante. Deprimente. Não agüentava mais essa merda. Estava com saudades de um homem de verdade, de uma trepada de verdade. Desde que te larguei não tinha uma trepada decente. O matei porque já estava morto. Tinha dinheiro, ma não gastava. Não aproveitava a vida. Só queria saber da merda de sua família conservadora e de ter a merda de um filho. Eu não queria ter um filho. Não quero ter um filho. Odeio crianças. E além do mais, se divorciar é muito complicado... Me envolver com juízes, tribunais, toda a legislação, blábláblá... Foi o caminho mais fácil.
- Entendo... Mas a polícia não pode te achar?
- Ninguém vai me achar. Vão demorar semanas pra descobrir que está morto. Ele não tinha amigos. Só se importava com a merda da família conservadora. Só seus parentes de merda vão sentir sua falta e só depois de semanas vão se tocar que tem algo errado. E além do mais, não deixei provas.
- Mas você vai ser a suspeita número 1. Não pensou nisso?
- Pensei, sim. Por isso peguei esse dinheiro.
Abriu sua bolsa e tinha uma nota ali. Contei, eram 50 mil. Daria pra nos sustentar por um tempo. Daria pra comprar uísque melhor e mais discos de Johnny Cash. Já tinha tudo que precisava. Uísque, discos de Johnny Cash, meu violão folk e agora tinha também um rabo para foder.
- E o que vamos fazer com tudo isso?
- Vamos nos mudar pro Alabama. Lá vou mudar a identidade, você vai comprar uísque escocês, quantos discos de Johnny Cash quiser, tocará em bares decentes e vamos foder todos os dias, a hora que quisermos.
- Pode ser. Com licença, vou botar outro disco.
Botei “The Blues Man” de Muddy Waters. Voltei para a cama. Beijei Carol e então trepamos. Há tempos não dava uma trepada como aquela.
No dia seguinte, acordei de ressaca e Carol não estava mais lá. Será que foi só um sonho? Fui fazer um café, andei em direção ao toca-discos, procurei meus discos de Johnny Cash e não estavam mais lá. Em cima do toca-discos, apenas um bilhete, escrito somente: “BABACA”. Era a letra de Carol. Merda. Puta de merda. Juro que mato essa vadia. Agora não tenho mais nada. Não tenho mais meus discos do Johnny Cash, meu uísque acabou, não tenho mais um rabo pra foder, não tenho mais o pouco dinheiro que tinha, porque essa vadia me roubou, roubou meus discos do Johnny Cash, e num deles estava escondido todo meu dinheiro. Ela devia saber disso. Agora tenho só o meu velho violão folk empenado. Puta de merda. Deve ter ido enganar e roubar outro babaca como eu e Marco. Puta de merda. Puta de merda.
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